Vivemos cercados de tudo: informação, produtos, novidades. Basta um clique para comprar, assistir ou aprender qualquer coisa. Mesmo assim, a sensação é de que falta. Falta tempo, falta espaço, falta energia para dar conta de tanta coisa. Esse contraste entre excesso e escassez virou parte da vida moderna e, de um jeito ou de outro, também entra pela porta dos nossos lares.
Os hábitos de escassez fazem a gente guardar mais do que precisa, encher armários “por garantia” e ter dificuldade de abrir mão do que já não usa. Ao mesmo tempo, cresce o desejo de leveza: de viver com menos, de simplificar, de deixar o lar respirar. O lar, afinal, é o reflexo do nosso tempo e também do nosso ritmo. E entender como essa sensação de “falta” influencia o jeito de morar pode ser o primeiro passo para transformar o espaço (e a cabeça) em um lugar mais tranquilo de se estar. Quer saber como? Continue a leitura!
O que a escassez faz com o cérebro e com o lar?

A ciência ajuda a explicar por que a sensação de falta mexe tanto com o nosso comportamento, inclusive dentro de casa. A pesquisa Scarcity: Why Having Too Little Means So Much (Escassez: Por que ter muito pouco significa tanto, em português) dos economistas Sendhil Mullainathan e Eldar Shafir, de Harvard e Princeton, mostram que quando sentimos escassez, seja de tempo, dinheiro ou energia, nossa mente entra em um tipo de “modo sobrevivência”. O foco se volta para o agora, e o que é urgente ganha prioridade. É nesse ritmo que acabamos acumulando “por precaução” e tomando decisões rápidas, sem pensar se aquilo realmente faz sentido a longo prazo.
Práticas minimalistas podem ajudar a aliviar esse impacto e trazer mais bem-estar para a casa. Um estudo recente, chamado The Environmental Impact and Wellbeing Benefits of Minimalism, analisou diferentes estilos de minimalismo e como eles afetam nosso dia a dia. Os pesquisadores identificaram três tipos: o minimalismo estético, o de poucos pertences e o consciente. Os dois últimos, “poucos pertences” e “consciente”, se mostraram mais eficazes em aumentar sentimentos positivos e estimular escolhas mais conscientes em relação ao meio ambiente.
No dia a dia, isso se traduz em lares mais organizados, consumo menor de energia e água, menos desperdício e escolhas mais cuidadosas de alimentos e produtos. Adotar o minimalismo consciente ainda ajuda a aliviar sentimentos de culpa ou ansiedade ligados ao consumo excessivo, criando um ambiente que favorece o foco e equilíbrio emocional. Ou seja, menos objetos podem significar mais espaço mental, mais presença e mais bem-estar, exatamente o que o cérebro precisa quando sente que falta algo.
Hábitos de escassez para abandonar
O que a ciência mostra na teoria também aparece no dia a dia: nossas casas refletem tanto a abundância, quanto a sensação de falta. E isso se mostra de maneiras bem concretas. Veja alguns hábitos de escassez que você pode abandonar para tornar a vida e o lar mais equilibrados.
1. Acúmulo por medo da falta

Guardar alimentos, produtos de limpeza e itens básicos para “o caso de precisar” foi comum, especialmente durante a pandemia. Isso pode até trazer sensação de segurança, mas também aumenta a desordem, gera ansiedade e, muitas vezes, desperdício.
Abandonar esse hábito significa perceber que nem tudo precisa ser guardado e que o planejamento consciente é mais eficaz que o medo. Para deixar esse hábito de lado, vale fazer uma lista do que realmente precisa e manter só o essencial em estoque. Isso ajuda a respirar e a ver o que você tem de verdade.
2. Comprar por impulso

Aquele item que parece indispensável na hora, mas depois fica esquecido na prateleira, ocupa espaço e pesa no bolso. Antes de comprar, vale se perguntar se você vai usar mesmo aquilo ou se é realmente importante no seu dia a dia. Se não for, é melhor deixar para lá e evitar acumular sem necessidade.
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3. Guardar coisas sem usar

Roupas, utensílios e objetos que não têm mais função acabam apenas acumulando poeira e bagunça. Vale a pena separar caixas ou sacolas de itens que você não usa há meses e doar ou vender. Por exemplo, aquele aparelho de cozinha que você não liga há um ano pode ganhar nova vida na casa de alguém que vai usá-lo de verdade.
4. Deixar tarefas para depois

Adiar ou procrastinar a organização ou pequenas reformas só aumenta a sensação de caos e deixa o dia a dia mais estressante. Pequenos hábitos ajudam bastante, como dobrar roupas diariamente, arrumar a mesa da cozinha depois das refeições ou guardar objetos usados assim que termina evita que o lar fique sobrecarregado de bagunça.
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5. Não desapegar

Manter itens que não têm função ou não trazem alegria deixa o apê apertado e carregado. Por isso, desapegue de livros que você nunca vai reler ou utensílios de cozinha que nunca usa. Separar o que realmente gosta e utiliza cria um lar mais confortável e leve, deixando espaço para o que realmente importa.
6. Economizar de forma extrema

Reaproveitar tudo ao máximo pode parecer sustentável, mas quando começa a atrapalhar o conforto ou a praticidade do dia a dia, deixa de ser útil. Por exemplo, adaptar equipamentos elétricos de forma improvisada pode prejudicar tanto a funcionalidade quanto a segurança.
Da mesma forma, economizar demais na limpeza ou manutenção de eletrodomésticos pode fazer com que eles se danifiquem mais rápido, gerando mais dor de cabeça no futuro. O segredo é encontrar um equilíbrio: usar os recursos de forma consciente, sem abrir mão do bem-estar, da segurança e da funcionalidade no dia a dia.
No fim, viver bem no seu lar hoje não é ter mais, mas ter o suficiente. Ao abandonar os hábitos de escassez e priorizar o essencial, se cria um lar que acolhe, inspira e dá liberdade para aproveitar cada instante.