Sentada no jardim, vendo as camélias, a senhora de 90 anos lembrou-se de sua mãe. E ali, contemplando a espaço e observando um pé de pitanga, expressou a sua admiração pela natureza e a paz que estava sentindo naquele momento. Essa experiência relatada pela paisagista Neide Braga resume bem o conceito do jardim terapêutico – um espaço que promove o bem-estar e auxilia na recuperação da saúde física e mental das pessoas. Geralmente construídos em asilos, hospitais em geral, infantis e psiquiátricos, clínicas de repouso e de reabilitação e até em locais com alto índice de violência, eles também podem ser criados em casa para beneficiar seus moradores, despertando bons sentimentos e sensações.
A ideia por trás do conceito de jardim terapêutico residencial é a própria relação do ser humano com a natureza. Em muitos casos, só o fato de interagir com elementos naturais já traz uma sensação de paz, tranquilidade e sentimentos de conexão consigo mesmo, com os outros e com um poder superior. Olhar uma paisagem agradável, por exemplo, desperta uma sensação positiva. A natureza também oferece uma pausa no dia a dia, filtrando os estímulos recorrentes de uma vida agitada e ocupada. Por isso, os jardins criados com propósitos terapêuticos reduzem o estresse, a ansiedade e promovem o conforto mental.
Jardins terapêuticos residências
Com uma variedade de cores, sons, texturas, aromas e iluminação é fácil envolver-se com um jardim. Segundo Neide, que há 17 anos trabalha com projetos paisagísticos, isso tem uma razão: “somos naturalmente propensos a gostar da natureza, pela composição da nossa matéria. Temos o mesmo fluido e a mesma constituição”.
Em entrevista ao Sonhar & Morar a profissional dá algumas dicas e informações essenciais para quem quer ter um jardim terapêutico em sua residência. O primeiro passo é saber que o jardim terapêutico deve ser cuidadosamente elaborado para que realmente faça com que as pessoas se sintam bem ao vê-lo ou interagirem com ele. Para isso, o paisagista deve entender as características do ambiente e as peculiaridades dos usuários, como seu comportamento e rotina, para que se possa buscar elementos que realmente deem significado ao jardim. Se existe prazer em cozinhar, por exemplo, uma horta em casa já pode assumir essa função terapêutica, pois estar em contato com as diferentes hortaliças acalma e promove o bem-estar.
Mas essa relação ainda vai além, como no caso da senhora que manifestou as lembranças afetivas que o jardim lhe trouxe juntamente à sensação de bem-estar. Isso porque, conforme explica Neide, uma forma de dar vida a um jardim terapêutico consiste justamente em explorar a memória afetiva. Dessa forma, eles podem, por exemplo, trazer e manter a lembrança viva na residência onde moram pessoas com Alzheimer.
Jardim terapêutico para todos os sentidos
“Você não precisa ver para contemplar”, afirma Neide ao contar sobre outro de seus projetos. Dessa vez, para um cliente cego. Os aromas e as texturas das plantas foram explorados na composição do jardim, que também contou com a instalação de bebedouros para atrair pássaros. Tudo isso para que o morador pudesse escutar o piar das aves e contemplar o espaço com todos os sentidos possíveis.
Tamanho também não é nenhum empecilho para um jardim terapêutico. Para muitos, construir minijardins em um pote, como um aquário, por exemplo, já é uma terapia confortável. Até a sua sacada pode ser transformada em um belo jardim, já que a simples interação com a natureza, como mexer na terra, pode ser terapêutico.
Quanto mais pessoal for o seu jardim, mais terapêutico ele tende a ser, pois vai trabalhar com as suas memórias afetivas, gatilhos mentais e preferências. O mais importante, no entanto, é ter um espaço que seja um convite para essa pausa cada vez mais rara e necessária, um momento de (re)conexão e bem-estar. Com força de vontade intenção e imaginação, até fotos, um lindo papel de parede ou um painel de bosques e jardins podem ajudar a mudar seu estado mental para uma frequência de tranquilidade e paz. Que tal tentar?
