O dedo desliza pela tela e lá está ela: a casa impecável. Tons neutros, almofadas alinhadas à régua, nem um mísero fio de cabelo no chão de madeira. A casa “instagramável” se impôs como o padrão de sucesso, transformando o minimalismo em estética, e o nosso lar, em uma vitrine sob constante vigilância. Mas, e quando essa busca incessante pela perfeição nos rouba algo essencial como a vontade de viver em casa? Chegou a hora de celebrar a bagunça boa! Ou seja, seu lar não precisa ser perfeito, apenas ser real. Veja como.

Bagunça boa: é sobre isso e está tudo bem!

Não se trata de abandonar a organização. A ordem nos espaços é fundamental para a clareza mental e a praticidade do dia a dia. Contudo, quando o minimalismo ou o rigor estético se tornam tão rígidos que impedem você de desfrutar do seu lar, ele deixa de ser um auxílio e vira uma prisão. A organização traz clareza, funcionalidade e paz, simplificando a rotina e reduzindo o estresse de procurar o que precisa. Porém, é preciso permitir que o seu espaço carregue as marcas da sua vivência. É ter o prazer, por exemplo, de poder deixar uma manta amassada depois de assistir um filme ou os livros empilhados na mesinha de cabeceira, prontos para serem lidos.

Sala de estar com sofá desorganizado, cobertor espalhado, tapete, TV e iluminação aconchegante, exemplificando uma bagunça boa que transmite conforto e descontração.
Imagem gerada digitalmente

A diferença é clara: ordem é boa, mas vida real também é! Lares afetivos não precisam ser perfeitos; eles só precisam ter espaço para você ser inteiro.

Ansiedade pela perfeição gera estresse

A cobrança estética excessiva pode gerar ansiedade. O esforço para manter uma fachada de perfeição pode roubar sua energia e fazer você se sentir inadequado. A felicidade genuína não pode depender de uma arrumação impecável, mas sim da liberdade de ser autêntico no seu refúgio. É por isso que a celebração da vida real cresce: o sofá manchado, a parede com o quadro um pouco torto e uma cozinha que parece estar sempre em uso são sinais de que o espaço está sendo vivido, e não apenas exibido.

Inspire-se: Wabi-sabi, a beleza da imperfeição

Conceitos que elevam a imperfeição a estilo de vida

Alguns conceitos de design corroboram com a vibe da “bagunça boa” e priorizam o conforto, a autenticidade e a desaceleração do lar. Veja algumas das tendências que se apoiam nesse estilo.

1. Wabi-Sabi: a beleza da cicatriz

Uma sala de estar com decoração rústica e artesanato, apresentando uma aparência de 'bagunça boa' que celebra a imperfeição e a beleza natural.
Foto: Followtheflow/ Shutterstock

Este conceito japonês é a arte de encontrar a beleza na imperfeição, na assimetria e nas marcas do tempo. Ele nos ensina que o móvel envelhecido ou a louça com uma pequena lasca não são defeitos; são evidências de uma história de uso e afeto. O Wabi-Sabi é a aceitação filosófica da bagunça boa.

2. Slow living: o essencialismo do ritmo

Mulher relaxando no sofá com uma postura de slow living e uma pequena bagunça boa ao seu redor, incluindo uma bola de lã e uma planta de interior, refletindo o essencialismo do ritmo de vida lento.
Foto: Iryna Imago/ Shutterstock

O “viver devagar” se manifesta no lar por meio da qualidade e da intencionalidade. Significa preferir o móvel artesanal e durável em vez da tendência descartável. No Slow living, a casa é planejada para nutrir o bem-estar e o ritmo de vida, e não para ser apenas uma vitrine. A bagunça é celebrada quando é o resultado de uma atividade prazerosa.

3. Hygge: a arte dinamarquesa do aconchego

Decoração aconchegante na janela com velas acesas e luzes, criando uma atmosfera de 'bagunça boa' que traz conforto e bem-estar ao ambiente.
Foto: Ground Picture/ Shutterstock

O Hygge (pronuncia-se “hoo-gah”) significa uma sensação profunda de aconchego, bem-estar e satisfação desfrutada nos momentos simples. A decoração Hygge enfatiza o conforto físico e emocional: iluminação amarelada de velas, texturas macias (mantas e almofadas) e a criação de ambientes que convidam ao relaxamento e à convivência despretensiosa.

O limite da bagunça intencional

Cozinha com uma bancada de madeira clara, topo de pia de aço inox, utensílios de cozinha em um cilindro de metal e um conjunto de três potes de tempero, tudo com bagunça intencional na parede decorativa de fundo.
Foto: Eugenia Pankiv/ Shutterstock

A bagunça é permitida até o ponto em que ela não impede a funcionalidade do seu lar. Nesse caso, o limite é pessoal, mas a regra de ouro é: a bagunça boa é a que reflete a vida. A bagunça ruim (ou caos) é a que paralisa a vida. Portanto, para praticar a bagunça Intencional sem cair no desleixo, adote a regra do “tudo no seu lugar, no seu tempo”:

  1.  Deixe os objetos à mão quando estiver usando (livros na sala, ingredientes na bancada da cozinha, material de artesanato). Isso é vida em curso.
  2. Tenha um pequeno ritual de 5 a 10 minutos no final do dia para “resetar” os espaços. Isso evita o acúmulo e garante que você comece o dia seguinte com a funcionalidade em dia. Guarde o que não será usado nas próximas 12 horas.
  3. Mantenha pelo menos 50% das suas superfícies de apoio (mesas, bancadas) livres. Isso cria uma sensação de ordem visual imediata, mesmo que haja alguns itens soltos.

Seu lar, suas regras

Uma jovem mulher organizando a sala de sua casa arrumando as almofadas.
Imagem gerada digitalmente

Abraçar a bagunça boa é um ato de autocuidado e de autenticidade. É rejeitar o padrão inatingível de perfeição das redes sociais e escolher o conforto da realidade. A sua paz não está no alinhamento perfeito dos objetos, mas na liberdade de viver sem a constante vigilância da estética. E esse é um convite para que você troque o medo da desordem pela vontade de curtir a sua casa do jeitinho que ela é e que você sempre sonhou.