Quem é autônomo muitas vezes se preocupa mais com a gestão financeira do orçamento do que aqueles que trabalham com carteira assinada — e é fácil entender o porquê disso. Afinal, a renda mensal não é fixa, não há 13º e pagamento de férias, os ganhos variam constantemente de acordo com as horas trabalhadas e os serviços oferecidos, e, em alguns casos, você ainda tem um pequeno negócio para administrar. Logo, a gestão financeira para profissionais autônomos é fundamental!

Pensando em tudo isso, montamos um guia completo de gestão financeira para profissionais autônomos. Nele tem várias dicas para ajudá-los a se organizar e não passarem por dificuldades. Acompanhe!

Gestão financeira para profissionais autônomos começa com separação das finanças pessoais e profissionais

Antes de mais nada, vamos falar de um passo fundamental a ser dado: separar as finanças pessoais e profissionais. A razão disso é que muitos autônomos, infelizmente, cometem o erro de misturá-las e usar os recursos de uma para cobrir gastos com a outra. O problema desse mau hábito é que eles acabam perdendo o controle sobre as despesas.

Daí não conseguem mais acompanhar as movimentações financeiras da conta bancária, deixam o orçamento no vermelho e, para completar, ainda colocam em risco os planos que têm para alavancar o próprio trabalho. Portanto, vamos começar organizando isso, certo? Veja quais são as nossas dicas!

Tenha contas bancárias separadas

A primeira dica é criar uma conta pessoa jurídica para a sua atividade profissional e separá-la totalmente da sua conta pessoa física. Sim, a gente entende que é mais prático e rápido deixar tudo na sua conta atual, ainda mais quando você é informal ou Micro Empreendedor Individual (MEI).

Porém, a longo prazo, isso tende a se tornar um baita problema. Afinal, você fica com dificuldade para monitorar e identificar os lançamentos (como depósitos e transferências) feitos por clientes e aqueles realizados por amigos e familiares.

Fora isso, cresce o risco que faturas de cartão de crédito ou mesmo valor do cheque especial sejam abatidos do dinheiro que é para ser usado exclusivamente no seu trabalho (na aquisição de materiais, equipamentos e afins).

Há ainda outra questão: as movimentações bancárias podem se tornar confusas para declarar no Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) ou na Declaração Anual de Faturamento do Simples Nacional (DASN – SIMEI). Por essa razão, você tem que depender sempre do serviço de um contador para auxiliá-lo e evitar problemas.

Reserve o valor referente aos gastos do seu trabalho

Após fazer a devida divisão de contas bancárias, adote o costume de, antes de sacar os seus ganhos mensais, reservar (para débito automático) o valor referente aos gastos do seu trabalho.

Por exemplo, um comerciante autônomo que vende bijuterias em uma loja no centro da cidade arca com os custos de locação do espaço, contas (de energia elétrica, água e internet), compra de produtos para reposição de estoque, material de limpeza e por aí vai.

Nesse caso, você evita que essas despesas se acumulem e possam — em um curto prazo de tempo — se tornarem uma dor de cabeça, levando-o a perder alguns dias de serviço ou mesmo ter uma pausa forçada nas vendas.

Defina dias exatos para as retiradas

Por último, defina quais serão os dias exatos em que você fará a retirada do seu “salário” (ou seja, seus ganhos pessoais) da conta pessoa jurídica. A princípio, isso pode parecer algo simples, mas é muito importante ter esses dias bem estabelecidos.

Do contrário, você pode ficar tentado a fazer vários saques ou transferências para sua conta pessoa física e, com isso, mexer no dinheiro reservado para quitar as despesas do seu trabalho e, em casos mais graves, até ficar sem fluxo de caixa. Uma boa sugestão é manter as retiradas quinzenais. Por exemplo, um no dia 15 e a outra no dia 30 de cada mês.

Anote todas as movimentações financeiras do seu negócio

Se você presta múltiplos serviços enquanto autônomo e/ou se vende produtos parcelados ou em carnês, comece a partir de hoje a anotar todas as suas movimentações financeiras.

Essa medida ajudará você a ter uma melhor gestão financeira do seu negócio, garantindo que débitos pendentes sejam acompanhados e cobrados com maior regularidade, as suas diferentes fontes de receita sejam registradas em um livro caixa e você possa pagar os impostos corretos de acordo com o tipo da sua atividade profissional.

Basta recordar que quem decide abrir MEI — para sair da informalidade, poder gerar nota fiscal, contribuir com o INSS e ter uma carga menor de impostos em relação à pessoa física — se torna pagante do Simples Nacional que tem valores mensais diferentes para quem atua no comércio, na indústria, na prestação de serviços etc.

Calcule as suas despesas fixas e variáveis

Depois de colocar as nossas dicas anteriores em prática, é hora de focar a sua atenção no seu orçamento mensal pessoal. Dessa forma, dá para calcular quais são as despesas fixas e variáveis que você tem, entender melhor como o seu dinheiro é gasto, se planejar para pagar as parcelas em dia (das suas contas) e o principal: evitar dívidas desnecessárias.

“Certo, entendi essa parte. No entanto, o que significa despesas fixas e variáveis?”, você deve estar se questionando. Por isso, saiba que a primeira categoria diz respeito aos gastos que são constantes todos os meses, como as contas de consumo (água, luz, telefone), mas quando se fala em empresas, se elas estiverem atreladas à sua produção/vendas, são consideradas variáveis, pois variam conforme a demanda. Ao contrário do aluguel, por exemplo.

Portanto, o segundo caso, embora também faça menção a gastos regulares, se refere àqueles que têm variação de custo a cada 30 dias. Por isso, eles podem vir mais baratos em um mês, mais caros no outro e assim vai. Esclarecido esse assunto, vamos às dicas!

Liste todas as suas despesas mensais

Comece listando todas as suas despesas mensais, separando elas em fixas e variáveis e acrescentando o respectivo valor de cada uma (seja ele exato, seja ele aproximado). Com isso, você terá uma média do percentual da sua renda que é destinado apenas para o pagamento de boletos e faturas todos os meses. Abaixo, há um exemplo. Veja:

Despesas fixas

  • Saúde (plano médico e odontológico): R$ 150;
  • Contas domésticas (água, luz, gás etc.): R$ 100;
  • Serviços de comunicação (internet e telefone fixo): R$ 80.

Despesas variáveis

  • Alimentação (supermercado, feira e refeições fora de casa): R$ 300;
  • Lazer (passeios, viagens, festas etc.): R$ 120;
  • Transporte (público, táxi, apps de corrida etc.): R$ 150;
  • Recarga de celular: R$ 30.

Resumindo: supondo que o cenário apresentado seja o seu caso, os seus gastos mensais vão girar em torno de R$ 930. Logo, se você ganha cerca de R$ 1,5 mil, 62% dos seus rendimentos vão ser destinados para quitar as despesas que tem.

Faça uma estimativa de gastos extras

Mesmo estabelecendo uma média de gastos, é importante que você se previna e faça uma pequena estimativa de despesas extras que podem surgir ao longo do mês, como compra de remédios, ida ao salão de beleza ou conserto de algum eletrodoméstico.

Assim, não há surpresas desagradáveis e o seu orçamento não fica comprometido. Uma boa ideia é acrescentar 10% sobre o valor que já foi previsto para arcar com as contas. Tomando o tópico anterior como exemplo, você definiria que sua faixa de gastos é, na verdade, R$ 930 mais R$ 93. Ou seja, no total, R$ 1,023 mil.

Não ignores os gastos anuais

Outra dica relevante é não ignorar aqueles gastos que são pontuais porque ocorrem apenas uma vez por ano (como o IPTU, a mensalidade da escola dos filhos, a anuidade da academia etc). Afinal de contas, como autônomo, você não dispõe de 13º salário.

Portanto, se não houver prudência, o período deles chegará e você não terá um valor disponível para cobri-los, o que vai colocar sua gestão financeira por água abaixo e gerar atrasos nos pagamentos de muitos boletos e faturas.

O indicado é já se planejar para pagá-los. Como? Simples: fracionando o valor deles em 12 vezes. Assim, basta reservar essa quantia todos os meses até a data de quitá-los. Exemplificando: se a sua anuidade da academia é R$ 99,90, poupe R$ 8,33 por mês. É um valor baixo e que, certamente, não vai fazer falta na sua renda.

Compare os rendimentos mensais com o seu padrão de vida

Depois de adotar o cálculo das suas despesas fixas e variáveis, é hora de fazer um comparativo entre os seus rendimentos mensais com o seu padrão de vida.

Aqui há um exercício de autorreflexão muito importante, pois você precisa ser sincero consigo mesmo e admitir caso esteja gastando dinheiro com coisas supérfluas para manter as aparências sociais. Infelizmente, várias pessoas fazem isso e não se dão conta do quanto esse comportamento compromete o orçamento delas.

Afinal, elas aumentam excessivamente as despesas com lazer, não conseguem poupar direito, fazem muitas contas que se transformam em dívidas em um curto prazo de tempo e, em casos mais graves, usam e abusam das linhas de crédito que os bancos oferecem para arcar com luxos irrelevantes. Por isso, é crucial ser capaz de identificar qualquer ato irresponsável com a renda pela qual você trabalha tanto para obter.

Use a tecnologia para ajudar na gestão financeira

Além das dicas que já demos, não deixe de contar com a tecnologia para ajudar na gestão financeira. Você pode, por exemplo, usar planilhas (como a do Excel) para fazer o controle de gastos diários ou baixar aplicativos no seu celular que permitam acompanhar em tempo real como o seu orçamento mensal pessoal e profissional está sendo empregado. Abaixo, há algumas sugestões de apps que têm essa função. Confira!

Mint

O Mint é um aplicativo para você entender melhor as suas finanças, saber como o seu dinheiro é gasto e entender quanto custa manter uma casa. Tanto é que nele é possível monitorar a sua renda disponível em conta, o saldo de cartões de crédito, a soma dos investimentos e reservas, as contas domésticas e o total gasto com despesas em cada mês de forma detalhada.

De quebra, ele tem uma ótima funcionalidade: permite que você fotografe seus boletos e faturas e salve no smartphone. Assim, sempre que precisar checar algum dado, contestar cobranças indevidas, conferir um pagamento ou apresentá-los em algum local, eles estarão na palma da sua mão. Bem prático, não é?

Disponível gratuitamente para iOS e Android.

QuickBooks

O QuickBooks, por outro lado, funciona como um livro de registros financeiros para quem é autônomo e tem um pequeno negócio. Com ele, você programa os lembretes de contas a pagar e a receber, monitora os lançamentos na sua conta pessoa jurídica, elabora relatórios de despesas, lista custos com fornecedores etc.

O aplicativo é tão funcional que possibilita, inclusive, a geração de nota fiscal eletrônica e a identificação de quais produtos/serviços têm mais saída e quais clientes retornam com mais frequência ao seu ponto comercial.

Disponível gratuitamente para e Android.

Economize e invista mensalmente

gestão financeira para profissionais autônomos

Após seguir todas as dicas anteriores e ter um maior gestão financeira sobre a sua renda, você deve começar a pensar no seu próximo passo: aprender a economizar. A razão disso é bem simples: reduzindo ou pondo fim em parte dos seus gastos, o seu orçamento fica menos sobrecarregado, reduz-se a preocupação com as contas e você consegue ter um dinheiro extra disponível que não tinha antes.

Quantia essa que pode ser aplicada em investimentos para construir, aos poucos, o seu patrimônio e futuramente comprar o apartamento que deseja. Gostou da proposta? Pois então fique atento às nossas sugestões!

Dicas para economizar

Para economizar na sua rotina não é preciso fazer grandes esforços ou abrir mão da sua qualidade de vida, ok? A solução é bem mais simples do que parece e requer apenas ter uma nova relação com o seu dinheiro, valorizando-o e respeitando-o. Abaixo, você verá como colocar isso em prática!

Corte despesas desnecessárias

Ao listas suas despesas, notou que há uma ou mais delas que são desnecessárias e poderiam facilmente ser reduzidas ou cortadas? Então faça isso! Por exemplo, muita gente se matricula em clubes de ginástica com o objetivo de se exercitar e levar uma vida mais saudável, mas depois do primeiro mês vai apenas poucas vezes ao espaço.

Contudo, independentemente da frequência delas, a mensalidade chega sem falta a cada 30 dias. Portanto, se algo similar acontece com você, não marque bobeira e cancele o seu plano. No lugar, é possível pesquisar por atividades ao ar livre (como corrida, pilates, yoga, ciclismo etc.) que sejam sem custo para o seu bolso.

Reduza o uso do cartão de crédito

Outra dica fundamental é reduzir o uso do cartão de crédito. Por mais que ele seja útil e permita que você compre coisas que precisa quando não dispõe do dinheiro em mãos, o risco de gastar além do necessário e ter que arcar com muitas parcelas depois é alto.

Tanto é que, de acordo com levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 7 em cada 10 brasileiros atrasam as contas, sendo que desse total 39% comprometem principalmente os boletos do cartão de crédito por não terem como arcar com os próprios gastos. Por isso, evitar usá-lo é o melhor remédio!

Prefira opções de lazer que sejam gratuitas

Uma terceira sugestão é pesquisar por opções de lazer que sejam gratuitas (como passeios em parques, pontos turísticos, atrações municipais em datas comemorativas, eventos abertos ao público etc.) que você possa aproveitar com a família, os amigos, o parceiro etc.

Dessa maneira, você tem a oportunidade de sair, se divertir e relaxar após uma rotina puxada de trabalho, mas sem precisar gastar além do necessário. De quebra, ainda consegue economizar!

Dicas para investir

As pessoas que não têm o costume de investir, geralmente, compartilham de uma dúvida muito comum: como aplicar meu dinheiro de forma inteligente? Afinal, quando se comenta sobre o assunto, logo se ouve a respeito daqueles investimentos de alto risco nos quais você pode alcançar um bom retorno financeiro, mas também perder o seu capital.

Não é para menos que tantos indivíduos ficam receosos de dar esse passo, não é verdade? Por isso, vamos aproveitar esse subtópico para esclarecer que, sim, há investimento seguro.

Um bom exemplo são os de renda fixa (como o tesouro direto, os debêntures, o LCI, o LCA etc.) em que você vai investir a longo prazo uma quantia pré-determinada e, após a data marcada para vencimento, pode resgatar o valor acrescido dos juros.

A grande vantagem é que, além deles renderem bem mais do que a velha poupança, o nível de segurança é elevado. Não há risco de perder o dinheiro aplicado, você já sabe o montante que receberá no final e ainda é assegurado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em até R$ 250 mil caso a corretora ou o banco no qual investe venha a fechar as portas.

Tenha uma reserva de emergência

Para encerrar, não podemos ficar sem dar uma última dica: crie uma reserva de emergência tanto pessoal quanto profissional. Isso porque ninguém está livre de ter que lidar com imprevistos. No entanto, quando se é autônomo, você deve estar sempre um passo a frente, já que não conta com a estabilidade da carteira assinada.

Assim, caso seja preciso se afastar das suas atividades (por questões de saúde ou problemas familiares, por exemplo), você não terá que ficar com aquela preocupação constante de “se eu não trabalho, não ganho”.

Outro ponto importante é que essa reserva permite que, mesmo em períodos com baixa procura de clientes ou em períodos sazonais do ano, você honre os pagamentos do seu negócio, tenha mercadoria disponível e conte com fluxo de caixa para gastos diários. Abaixo, você verá algumas sugestões para criá-la. Tome nota!

Reserva de emergência pessoal

Para a reserva pessoal, o ideal é poupar, pelo menos, 10% da sua renda no mês. Ou seja, se você ganhou por volta de R$ 1,5 mil em abril, deve guardar R$ 150. Se ganhou R$ 1,4 mil em maio, deve guarda R$ 140 e por aí vai.

Lembrando que esse valor não deve ser deixado na conta corrente, pois passa a falsa impressão de que há um dinheiro extra disponível ou que o seu orçamento está mais folgado que, de fato, está. Com isso, a tentação de sacar ou gastar essa quantia aumenta.

O ideal é mantê-lo na poupança. Assim, em caso de necessidade, basta transferi-lo parcial ou totalmente para a conta. Algo simples, mas que não é possível quando ele está aplicado em investimentos, uma vez que movimentações antes do prazo de vencimento definido acarretam em perda de dinheiro ou pagamento de taxa/multa.

Reserva de emergência profissional

Já a reserva profissional, por sua vez, deve entrar como um dos seus gastos com o trabalho — que mencionamos lá no primeiro tópico. Dessa forma, o hábito de poupar acaba se tornando automático.

Outro ponto relevante é que você deve estabelecer um valor fixo por mês (que pode ser R$ 80, R$ 100, R$ 150 etc.), como se estivesse pagando a um fornecedor, sabe? Desde, é claro, que essa quantia se mantenha próxima da sua menor despesa. Lembre-se que a ideia é poupar do que sobra, não tirar das suas contas para guardar para o futuro.

Como deu para ver ao longo do artigo, a gestão financeira para autônomos não é algo complexo ou extremamente trabalhoso. Nada disso! Ela só precisa começar com um melhor controle da sua renda profissional e terminar com uma melhor organização do seu orçamento pessoal — o que engloba fazer economia, manter uma reserva, monitorar despesas e investir aquele dinheiro extra. Dessa forma, é possível alcançar um maior equilíbrio financeiro e um melhor padrão de vida.